Estágio do Concernimento

“Quando a criança começa a se preocupar com o outro.” — D. Winnicott

O Estágio do Concernimento, ou Estágio da Preocupação, é uma etapa essencial no desenvolvimento emocional infantil descrita por Donald Winnicott, psicanalista pediatra britânico.

Trata-se do momento em que a criança, por volta dos 6 a 12 meses de vida, começa a perceber que a pessoa que cuida dela (geralmente a mãe ou figura cuidadora principal) é alguém separado dela — com desejos, sentimentos e fragilidades próprios.

Essa percepção provoca algo novo: a preocupação com o outro.
É a primeira vez que o bebê não está apenas centrado em si mesmo. Ele começa a sentir culpa, responsabilidade, arrependimento — e, principalmente, desejo de reparar quando sente que fez algo “ruim” ou agressivo.

Não se trata de uma culpa patológica, mas de uma culpa saudável, que marca o início da capacidade de amar, cuidar e se responsabilizar. Winnicott afirma que essa é a base para toda a ética humana.

Essa etapa só é possível se, até então, o bebê tiver tido uma experiência suficientemente boa: alguém que acolhe suas necessidades, tolera sua agressividade, e sobrevive emocionalmente a ela. Assim, a criança tem espaço para refletir:
“Eu bati, ela ficou triste… será que eu machuquei? Posso fazer algo para cuidar?”

📖 Leitura recomendada:
Winnicott, D. W. (1990). O Brincar e a Realidade. (Capítulo “A capacidade de preocupação”)

Por que isso importa no desenvolvimento infantil?

Esse estágio marca a transição do funcionamento puramente egocêntrico para uma relação empática com o mundo. É aqui que:

  • A empatia começa a florescer;
  • A criança descobre que tem impacto sobre o outro;
  • Aparece o desejo de reparar e cuidar, dando origem à moralidade saudável;
  • A agressividade infantil (normal e necessária) encontra um lugar simbólico e seguro para ser expressa e transformada.

Esse processo é sutil, emocional e profundamente humano.

Como isso aparece no dia a dia?

  • Uma criança bate ou empurra e, logo em seguida, oferece o brinquedo ou tenta fazer carinho.
  • Ela derruba algo e, antes mesmo de ser repreendida, diz: “Desculpa, foi sem querer.”
  • Após um momento de birra, a criança procura um abraço, tentando “consertar” a relação.

São expressões pequenas, mas carregadas de significado: ela está começando a se preocupar com o outro.

Como podemos explorar isso no brincar?

O brincar é um campo ideal para a criança experimentar culpa, destruição e reparação de forma simbólica e segura.
Brincar de “machucar e cuidar”, de derrubar e construir, de rasgar e colar… tudo isso permite à criança elaborar emoções e aprender, na prática, que é possível reparar o que se quebra — nos objetos e nas relações.